Conforme nos aproximamos das eleições presidenciais nos EUA, nós da TPICAP Brasil estaremos aqui para oferecer a melhor cobertura para mantê-lo informado e atualizado nos problemas e cenários que podem se desenrolar até o dia que tivermos um novo POTUS.


Nossa missão com este primeiro report é atualizá-lo dos principais fatos que compõem essas eleições, suas diferenças dos sistemas brasileiros e, principalmente, como tudo se conecta aos mercados que mais importam para nós aqui no Brasil. Para pular para o bruto de nossa análise é só clicar aqui: In The Money.


Por último, aproveite que qualquer texto destacado conterá um breakdown mais detalhado e outros pedaços de informações e contextos sobre os democratas, os republicanos e também sobre os mercados. Então, dito isso, vamos lá.


4 anos atrás...


... não só os Estados Unidos mas o mundo todo enfrentavam um cenário muito diferente. A administração Trump começava a impor restrições de vôo à China devido ao COVID-19, enquanto uma recessão econômica era anunciada pelo governo americano, encerrando o maior período de expansão da sua história.

Biden estava competindo contra Bernie Sanders pelas primárias Democratas, enquanto Trump estava basicamente confirmado como o candidato da GOP.

Tensões aumentavam conforme mais e mais países começavam a ter que lidar com o COVID, enquanto discussões sobre segurança no emprego, lockdown e o papel do governo em tudo isso eram as principais pautas em todos os lugares.

2020 foi um ano bem peculiar, mas até aí parece que isso sempre é o caso; mas antes de entrarmos em nossa análise para o ciclo de eleições presidenciais de 2024, temos que entender a fundo o sistema eleitoral americano.


"The American Way"


Uma das principais diferenças entre as eleições americanas e as do Brasil é a existência de um Colégio Eleitoral. De forma simplificada, o presidente eleito será aquele que obtiver pelo menos 270 dos 538 votos dos delegados.


Mas como os americanos realmente saem de suas casas e expressam a sua preferência?


Todos ciclo eleitoral ouvimos sobre delegados e seus votos, votos não-proporcionais, todo aquele papo de "the winner takes all" com alguns estados sendo mais importantes que outros, e muito mais...


Isso é porque nos Estados Unidos — diferentemente de outras grandes democracias — quando eleitores exercitam seus votos para um candidato à presidência, eles estão efetivamente votando para os delegados de seu estado, que irão, então, transmitir essas preferências no voto final.


Primárias 2024


Nos Estados Unidos, primárias possuem uma importância maior que na maioria dos outros países. Porém, conceitualmente, não é tão diferente quanto o que temos no Brasil, exceto pela nomenclatura. Em termos gerais, primárias são o processo pelo qual eleitores escolhem quem os representarão em seu partido nas eleições gerais em Novembro.


Essa terça-feira (5 de Março) marca a data mais importante para as primárias americanas: a Super Tuesday, um dia no qual 17 estados e territórios votarão em seu candidato preferido dentro de seu próprio partido.


Até então, a Super Tuesday 2024 está indicando que vai ser — para melhor ou pior — anti-climática.


Republicanos têm um candidato quase que já decidido em Donald Trump enquanto os Democratas estão passando por problemas difíceis em relação à nomeação de Biden como seu candidato, problema o qual iremos explorar melhor em nossas análises.


Mesmo com isso, é difícil imaginar qualquer um além do incumbente como o candidato pelos Democratas em 2024 contra Donald Trump, um replay de 2020.


Anatomia de um Vencedor


É sempre complexo e potencialmente presunçoso tentarmos encontrar os determinantes do voto de um povo. Porém, a história em si e pesquisas de opiniões nos munem com indicadores de tópicos quentes para o americano médio, bem como as diferenças de percepções entre Democratas e Republicanos.


De acordo com Pew Research em Junho de 2023, os problemas que mais preocupam os americanos eram: inflação, plano de saúde público, dependência química e posse de arma. Surpreendentemente, em uma lista de 16 tópicos, desemprego é o que menos importa para os americanos, com apenas 24% dos entrevistados dizendo estarem muito preocupados, enquanto Gallup reporta 34% agora em Janeiro de 2024.


Quanto aos prospectos de reeleição de Biden, uma economia estável é crucial; particularmente: evitar uma má performance econômica. Dados recentes indicam um mercado de trabalho robusto e aquecido com baixo risco de piorar tão cedo, o que explicaria a pauta de desemprego ser tão esquecida na mente do cidadão americano. Ainda assim, inflação continua sendo um ponto de preocupação dos Democratas. Também existem os desafios de política externa com os conflitos na Ucrânia e Israel, no qual Biden se encontra em um cenário de "se correr o bicho pega, se ficar o bicho come."


A inflação também tem afetado a popularidade de Biden. Com a pandemia contribuindo para um aumento de preços global devido à atritos nas cadeias de produção e um movimento em relação a bens, os pacotes de estímulo de Biden — enquanto ajuda com renda — estão conectados a um aumento de 2.6% na inflação. Apesar de convergência no CPI, inflação persistente no setor de serviços apresenta um risco, potencialmente atrasando os cortes de juros da Federal Reserve e impactando a economia e o sentimento público.


Assumindo Trump como o nomeado pelos Republicanos, sua campanha deve se alavancar na insatisfação do povo com relação à economia, particularmente quanto à inflação e desaceleração. As promessas de Trump quanto à corte de impostos, deportação e China também ressonam muito bem com sua própria base e pode começar a atrair Democratas descontentes com Biden.


In The Money


Aprovação


Donald Trump já afetou os mercados meses à frente do dia da votação com um fenômeno chamado the "Trump Put." Trump está liderando uma campanha forte em sua própria base e — no estilo clássico do Trump — não tem vergonha de usar qualquer arma política à sua disposição.


Logo mais o candidato Republicano mais anti-frágil de todos com certeza vai colocar o Biden para dançar durante sua temporada de campanhas. A idade do Biden também têm sido um tópico de discussão significante, e o que começou como meramente dúvida sobre ele em 2020 agora se tornou poderosa arma política para Trump.


Um dos sentimentos mais prevalentes, pelo menos no discurso público, é que "só quem pode perder a eleição é o próprio Trump." Isso, porém, não é exatamente o que as pesquisas mostram, com informações de que a competição está muito mais próxima do que parece, com Trump liderando mas com margens pequenas demais para ficar tranquilo.


Também não é um segredo que ambos os candidatos são extremamente impopulares. Ambos entraram em seu terceiro ano de governo com a menor a menor aprovação dos anos recentes, com Biden conseguindo ser mais impopular que Trump fora. Nós estamos — agora mais que nunca — entrando em uma fase em que as pessoas votam baseado em quem não gostam mais do que no candidato que aprovam.


Popularity Chart

Dólar


Dollar Chart

Logo antes do dia da eleição em 2016 o dólar teve um pico, provavelmente devido à incerteza sobre um "milionário transformado político" na economia. Ele lentamente decaiu até que, em 2018, devido à uma crescente tensão nas relações US-China, voltou a subir e ficou em sua maioria estacionário até a pandemia começar. Em 2020, o início da incerteza global durante a pandemia favoreceu o dólar. Isso, porém, foi revertido no momento em que o Fed cortou as taxas de juros à zero durante a pandemia.


Se a Caixa de Pandora do Trump foi a pandemia, a do Biden foram as guerras. Sua eleição não gerou muita incerteza, dado sua plataforma clara e seu rosto familiar para o establishment. Houve dois eventos simultâneos em 2022 que favoreceram um forte aumento na moeda: o começo da invasão Russa na Ucrânia e o ciclo de aumento de juros do Fed. A guerra — como ela comumente faz — aumenta a incerteza no mundo todo, o que parece sempre favorecer o dólar, e esse crescimento só parou após mais de um semestre.


Desde então, incertezas sobre o ciclo de corte de juros do Fed alimentados por uma inflação mais resiliente que o esperado têm mantido o dólar em um nível relativamente alto, e agora que já passamos do primeiro rodeio dos dois candidatos, algumas coisas podem ser ditas com mais confiança: quase tudo aponta para uma apreciação do dólar, pelo menos até o meio do ano.


A expectativa atual é que o Fed não irá começar o ciclo de corte de juros entre maio e junho, quem sabe agosto. Com isso, é improvável que veremos grandes movimentos na moeda até lá. Porém, conforme as eleições se aproximam e com a candidatura extremamente competitiva de Trump, a principal fonte de movimento seria a expectativa de uma retomada nas tensões entre a China e os Estados Unidos, algo que Trump tem mencionado frequentemente.


Dívida


Quando se trata do orçamento e do nível da dívida, a gestão Trump foi marcada por dois eventos mais relevantes: o corte nos impostos de 2017 e o aumento nos gastos por conta da pandemia. O corte de impostos aumentou a dívida do país em $8.4 trilhões em um horizonte de 10 anos. Dito isso, é bom ter em mente que boa parte dessa dívida era inevitável, uma vez que refletia decisões já tomadas por gestões anteriores.

De modo geral, podemos dizer que a gestão Trump não trouxe muitas novidades quando comparada a todos os presidentes republicanos anteriores desde Reagan, quando os déficits começaram a crescer, muito por conta das medidas voltadas a reduzir a taxação sem que houvesse uma redução equivalente nos gastos, que seguiu crescendo.


A razão dívida/PIB tem caído na gestão Biden. Bom, certo? Poderia ser o caso, mas esse dado é enganoso, pois durante períodos de alta inflação é comum que haja um incremento nas receitas, que é o que ocorreu no decorrer dessa gestão.

Quanto aos déficits, o American Rescue Plan Act de 2021 foi um programa de estímulo com o custo de $1.9 trilhão e incluiu desde transferências de $2000 por criança para famílias até perdão de dívidas estudantis. Atualmente, os níveis estão mais baixos do que estavam em 2021, mas isso também não diz muito, dado que foi quando esses valores explodiram por conta da COVID.


Debt Chart

Com tudo que foi tudo sobre ambos os candidatos e dados suas respectivas reputações, podemos dizer que sob nenhum dos dois o problema da dívida americana crescente será solucionado. Por diferentes motivos (Republicanos nos impostos; Democratas nos gastos), ambos irão presidir um país no qual déficits continuam sendo a lei do lugar.


Também é crucial monitorarmos quem tomará controle de ambas as casas do Congresso. Para a saúde das finanças públicas, acreditamos que o melhor é que nenhum dos partidos tenha ambos a presidência e a maioria das casas.


Treasuries


O mandato de Trump começou bearish pelos primeiros dois anos em relação à bonds. O robusto crescimento na economia eventualmente começou a gerar expectativa de inflação futura, o que puxou os valores um pouco para trás. Tudo isso parou assim que a pandemia se iniciou, onde as notas de 2y responderam muito mais agressivamente aos eventos — como esperado — e despencaram quando o Fed cortou a taxa de juros.


Isso continuou com Joe Biden, quem também lidou com a pandemia pelo primeiro terço de seu mandato. Em 2023, a curva de juros se inverteu — apesar de estabilizada — para os níveis mais baixos em décadas no spread de 2-year/10-year. Não resta dúvidas que isso foi um resultado do Fed se rebalanceando ao começar a adotar sua estratégia de "hike and hold" para lutar contra a inflação.


Quem tem o controle das casas deve impactar o mercado de bonds muito mais do que a presidência em si, pois mesmo com os presidentes sendo catalistas de política monetária de maneira indireta, eles não são — nem de longe — a fonte primária de volatilidade no mercado de bonds. Conforme o dia da eleição se aproxima, nós não vemos uma distinção significativa entre quem será o POTUS em relação ao tesouro e — ao invés disso — ficaríamos de olho em um double up ou split entre as casas e o partido do presidente.

Debt Chart

No futuro...


Nós, na TPICAP, iremos trazer até você mais reports como esse nos meses que virão até o dia da votação, com tópicos como resultados de pesquisas, o Congresso, estudos dos impactos de dados eleitorais nos mercados, bem como takes pontuais sobre notícias relevantes.




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